E se…?
E se eu lhe dissesse que…
E se eu lhe dissesse que há uma razão pela qual os homens têm uma esperança média de vida mais curta do que as mulheres, que não apenas biológica?
E se eu lhe dissesse que há uma razão pela qual os homens guardam mais os sentimentos para si e sofrem em silêncio?
E se eu lhe dissesse que há uma razão pela qual os homens incorrem mais facilmente em comportamentos de abuso de substâncias (álcool, drogas…)?
E se lhe dissesse que somos nós, a sociedade, quem impulsiona e sustenta este paradigma?
Desde que nascemos, somos “encharcados/as” em diferentes conceitos sobre o que é “ser” e “comportar” como homem e como mulher. Desde a roupa que vestimos, à maneira como comunicamos verbalmente e não verbalmente, até aquilo que podemos sentir e pensar. Assim sendo, é evidente que sofremos influência da nossa sociedade na formação da nossa personalidade.
Nos últimos anos, temos colocado em evidência, o quanto estes estereótipos e preconceitos sobre aquilo que é “ser homem” ou “comportar-se como um homem” podem ser prejudiciais para o nosso funcionamento: quer para os próprios homens, quer para as mulheres ou pessoas não binárias. Na verdade, todas e todos sofremos com o mesmo problema: a masculinidade tóxica. A masculinidade tóxica refere-se, no sentido lato, a um conjunto de ideias pré-concebidas e culturalmente enraizadas na nossa sociedade ocidental sobre masculinidade, que são tendencialmente castradoras e sustentam comportamentos lesivos e auto-lesivos. Nas frases e comportamentos mais simples, podemos identificar comportamentos carregados de masculinidade tóxica. Desde o clássico “homem não chora”, até ao “pareces um maricas a correr dessa forma” ou ao “demoras tanto tempo a arranjar-te, pareces uma rapariga”. Insistimos para que todas as pessoas que tenham uma configuração biológica masculina obedeçam, sem questionar, a tudo aquilo que lhes foi imposto à nascença. “Se és homem, tens que seguir um conjunto de regras.” E o que acontece a todos aqueles que não as seguem, voluntária ou involuntariamente? A resposta é simples! São estigmatizados e criticados. São imediatamente tidos pelo resto da sociedade como “inferiores”. Logo, ensinamos as crianças, desde cedo, que terão necessariamente que abraçar este molde e rever-se nele, quer queiram, quer não.
Mas, voltando ao que referi supra, reitero: serão os homens as principais vítimas desta masculinidade? Não. De todo. Afinal, conseguimos perceber que a masculinidade tóxica, também, parece motivar e justificar comportamentos de agressão, quer entre pares, quer nas relações românticas. Leva-nos a que nós, homens, não saibamos lidar com a nossa própria dor (ou a querer escondê-la ao máximo). Leva-nos a ser mais violentos em relações românticas e afetivas, tanto com as namoradas, como com as mães e os pais. Levam-nos a distanciarmo-nos dos nossos filhos. Poderão acreditar que atualmente as coisas já não são bem assim. Que os tempos mudaram, que já há espaço para novas visões sobre a masculinidade. É certo que já se começa a conseguir respirar e mostrar novas formas de organização em torno da masculinidade. Mas estamos ainda longe. Muito longe daquilo que é a liberdade para se ser homem.
É por tudo isto que, neste Dia Internacional do Homem, sugiro: vamos quebrar o estereótipo. Vamos ensinar os homens a não guardarem sentimentos para si próprios. Vamos ensinar que não há problema em chorar. Que não é preciso magoar alguém para chegar onde queremos. Que podemos ser felizes sendo exatamente como somos, como queremos ser.
E que o céu é o limite.
E façam-me um favor… sejam felizes!
Psicólogo, terapeuta conjugal e sexual Bruno Silva